The World of Kanako (渇き, Kawaki, 2014)

★★★★★★★★★☆
"A razão pela qual uma geração parece confusa é devido ao caos na mentalidade do espectador." (Jean Cocteau)
   "Mas a Leandra só vê filme japonês", me dizem, apesar de não ser uma meia verdade. Filmes como The World of Kanako me fazem perceber que não perco nada trocando filmes comerciais americanos pelo underground oriental.
   O Mundo de Kanako, ou The World of Kanako, ou Kawaki, é um filme japonês de Tetsuya Nakashima que conta a história de Akikazu Fujishima, um ex-policial tentando encontrar sua filha desaparecida. Com essa premissa inicial aparentemente simples o filme se desvincula dos clichês é construído por Nakashima de maneira explosiva e surreal.
   Além da trama do policial tentando encontrar sua filha, o filme inicia-se com cenas avulsas seguidas de uma trama de assassinato. No primeiro momento a relação entre as cenas não parece clara, mas, em um ritmo frenético e com um desenvolvimento cheio de reviravoltas, o filme explica a relação entre as cenas iniciais com o caso de Kanako. Essa construção de cena é um dos pontos altos desse filme incrível. Até a metade do filme o significado das cenas não são revelados o que me fez pensar como: "Mas ué, o que aquelas cenas têm a ver com o filme?", mas tudo acontece no momento certo causando um grande impacto pelo seu caráter imprevisível.
   The World of Kanako, como Confissões, um dos meus filmes favoritos e que também foi dirigido por Nakashima, é um filme mindfuck. Mas essa não é a única similaridade entre os dois mais recentes filmes feitos pelo diretor. O mergulho no psicológico de cada personagem, os personagens adolescentes problemáticos e suicidas, o uso de músicas indies em sua trilha sonora, fazem de The World of Kanako um filme característico e singular.
   O foco principal do filme é analisar e mostrar como as personalidades de filha e pai se assemelham ou se diferem. O filme possui muitas e lindas cenas de violência, principalmente cometidas contra as mulheres pelo personagem principal. Mas toda a misandria no filme existe com o propósito de fazer o público diferenciar as boas e más ações. Em nenhum momento o filme exalta a violência contra as mulheres, pelo menos não contra as mulheres em geral e acredito que seja necessário deixar claro que nem todas as cenas de violência contra as mulheres no filme são cometidas por capricho do personagem ou misandria, apesar da maioria ser assim. Além disso, o personagem de Kôji Yakusho, o pai, tem um lado humano que é explorado muito bem pelo filme por meio de cenas sóbrias e flashbacks, o que é sonho? O que é realidade? Só assistindo pra saber. Quanto a personagem da atriz Nana Komatsu, a tão procurada Kanako, é impossível falar algo sobre ela sem dar spoilers. O que posso dizer é que o filme é como um quebra-cabeças, a investigação feita pelo por Akikazu Fujishima me fez mudar várias vezes a opinião sobre Kanako, seria ela um anjo ou o maior dos demônios? O que posso dizer é que o filme me instigou a cada momento por suas grandes revelações.
   O que mais chama atenção no filme é a mistura louca em questão de fotografia e trilha sonora. Em Confissões, Nakashima mantém o clima sempre sombrio com algumas cenas levemente retrôs comumente vistas em filmes adorados pelos hipsters, enquanto em World of Kanako ele mistura todas as coisas possíveis. Sério. Primeiro no tempo principal, a investigação do pai, o clima pode ser ou moderninho de ação policial ao som do jazz, ou sombrio com músicas clássicas na trilha sonora, as cores desse tempo puxam para o verde escuro com leves tons amarelados.
   Na história de Kanako, existe uma talvez relação de amor entre ela e um garoto que sofre bullying, essas cenas têm tons pastel retrôs suaves, um pouco mais acentuados do que aqueles vistos em Confissões, além da narração pelos olhos do garoto que, além de ser interessantíssima, nos remete aos filmes hipster, e claro, a trilha sonora indie que não pode faltar nos filmes do Nakashima.
   Em contrapartida a isso tudo, há também tempos de loucura e psicodelismo. Uma cena de festa onde várias fotografias paradas com efeitos daquelas máquinas japonesas que colocam letrinhas em fotos aparecem em meio de cenas com muito movimento e, pasmem, com música de anime no fundo! E tudo isso sem ficar cafona, hahahah. A direção é tão foda que tudo é colocado em cena com muito estilo!
   A cena da festa, tem spoilers apenas no final do vídeo:

   E como não posso parar de compará-lo com Confissões, World of Kanako é tão psicológico quanto, porém com mais cenas de violência física. O que falta de sangue em Confissões tem em excesso em Kawaki, o que é um ponto mega positivo.
   Apesar do filme ser todo lindo, se não tiver nenhum defeito o texto não é meu. Na parte quase indo para o final do filme tem uma cena linda e louca de tiro e violência que é um arraso visualmente, porém é de uma parte anterior até essa cena que o filme dá uma emperrada, é um seguimento confuso que poderia ter sido melhor explicado. Enfim, mas não querendo comparar de novo, mas Confissões ainda é meu favorito do Tetsuya Nakashima, e talvez alguém dia eu faça uma resenha explicando o porquê.
   Ah, e claro, a tal cena porra louca extremamente foda da qual falei é essa: (e claro que tem spoilers, né, então já deixo avisado, hahah)

   E para finalizar, deixo aqui a abertura do filme que é elegantíssima. Ela remete aos seriados policiais antigos e, quando eu disse que o filme mistura tudo, estou falando sério.


Leandra Diniz.

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